sábado, julho 26, 2003

OH, VIDA ESTRANHA

Oh, vida estranha
que nos obriga a burrice tamanha
nos prende àquilo que não queremos viver.
Oh, que grande agonia
estou presa ao mundo da fantasia
todos aqueles desenhos que estou a perder.
Oh, burrice estranha
que nos leva à viagem tamanha
sempre estou a me arrepender:
se estou no colégio, acho perda de tempo;
se estou na Anima Mundi, penso no vestibular
e tudo que eu quero é escrever e desenhar.
Minha mão treme, meu coração se agita
quando tenho de repente nova idéia a ser escrita
quando estou a produzir seja qual for o lugar
desde que eu possa redigir e registrar
o turbilhão que eu carrego
apesar de materialista, sou artista, não nego
É o tipo de coisa que não posso e não quero evitar.

quinta-feira, julho 24, 2003

ARCA

O que se esconde neste baú
que sonhos, que quimeras
deixei ali e agora
não consigo enxergar?

Como fui capaz de enterrar
meus próprios sonhos e prazeres
Que aventuras escondi aos meus olhos
e de que adiantou isto
se minhas mãos anseiam em tocar
o papel amarelado e amassado no fundo da gaveta
Delícia como comer sobremesa sem jantar
Apenas de sonhos se alimentar
não se deixar congelar pelo coração
e ser atropelada pela multidão
que a priori nos incapacita de irmos
aonde queremos.

Os sonhos,
de dentro do seu túmulo
socam e gritam de dentro do caixão
avisando que estão vivos e querem sair

Meu coração congelado
me fez surda aos anseios sussurrados
mas subitamente vejo minhas mãos ávidas
e, confiando na sabedoria
que elas já adquiriram,
as deixo procurar
Mãos atrevidas tocam todo lugar
abrem portas e gavetas
mãos surdas e ceguetas
que tateiam sem parar

Sábio destino
espera o ápice do momento
mãos de fora que procuram
e mãos de dentro que esmurram
tem breve casamento

Mãos trêmulas tocam os sonhos
sonhos ávidos tocam o coração
libertando aquele ser de sua prisão
que é viver sem ter um alvo a alcançar
um sonho para sonhar
se permitir ser quem quiser
e se impedir de ser levado com a maré

O túmulo escancarado
é a prova de que há algo errado
mãos de sonho escrevem estas palavras
e um coração gelado é convidado a se isolar.

Ana Marta
anelos@br.inter.net

segunda-feira, julho 21, 2003

Passei para Letras na UFF em 1992 querendo ser escritora. Em 1995 comecei a organizar meus poemas para fazer meu livro. Esses poemas constam do meu livro Manteiga Voadora editado pela Vertente, de Campos do Jordão. Querendo adquirir um, entre em contato comigo: maioneseliteraria@yahoo.com.br
ESPERA

Deitada na cama olho o teto
É isso que vêem aqueles que me vêem
Ao contrário do meu corpo, minha mente e meu coração viajam
Concebo desejos a serem conquistados
enquanto o pobre corpo,
humilde escravo deste senhores, descansa.

O coração pede a presença de alguém distante
e os olhos, impossibilitados de levar à mente
a imagem do rosto do distante amado
produzem lágrimas que molham as hastes
de um óculos que jaz inútil ao lado da televisão.

E a noite me preenche de pensamentos infames e insones
o corpo descansa à medida que esse
incansavelmente sofredor coração permite
os músculos retesados evidenciam a agonia da solidão
Sim, sentada estou escrevendo agora
este servo nunca falhou com uma obrigação
Mas que eu posso fazer
se este surrado coração cansou de ver o rosto de plástico
Enquanto a mente se entope e enche seus companheiros de teorias
o que este prático coração quer é poesia
e o servo pede uma trégua...

Os ouvidos escutam uma canção que consola
essa saudade que me consome e me assola
Corpo cansado só quer se esticar
olhos úmidos se recusam a chorar
o corpo vencerá e eu continuarei deitada
viajando, pensando emocionada
quanto mais vou ter que esperar
para finalmente poder te encontrar.

domingo, julho 20, 2003

MEU CORPO

Meu corpo, meu amigo, não é para ti
Meu corpo não foi moldado em urbanas academias
mas por noites de insônia, tristezas e alegrias
caminho solitário de meu próprio eu

Meu corpo, meu amigo, não é para ti
Meu corpo foi moldado por mãos atrevidas
mãos que foram por estas mãos escolhidas
mãos que a tua mão não escolheu

Meu amigo, meu corpo não foi feito para ti
Foi unicamente feito para meu usufruto, meu prazer
e tenho muito prazer em não te escolher
para participar cotidianamente da minha vida

Esta mão calejada e sofrida
Teve o prazer de te percorrer
e a alegria de te perder
Informação assimilada e bem recebida
por todos os poros deste corpo não esquecido
do dia que com o teu foste unido

Oh, corpo extensamente percorrido
não te lembres deste corpo perdido
Pois, meu amigo
este corpo não é para ti.