domingo, setembro 26, 2004

Lagoa

Sozinha estou e sozinha estarei por mais acompanhada que esteja. A multidão não me influi, mas a sua companhia ou sua ausência são igualmente bem vindas. Rostos, corpos, cheiros, sons, vozes, paisagens complementam minha vida, alheia de todos, do mundo e de si mesma. Minha cidade e meu povo são a moldura dos quadros que pinto todos os dias. Quadros grandes ou pequenos, retratos da vida de vários ângulos e de várias vidas simultaneamente. Dias e noites não são passados em vão, sinto o amadurecimento correndo nas minhas veias, com todas as conseqüências deste fato notório e inexorável. Escrevo digitando, olhando só para as teclas e ouvindo “Chega de Saudade”, que me faz lembrar, não sei porque, a Lagoa Rodrigo de Freitas, e o quadro se pinta, sozinho, diante dos meus olhos na minha frente: logo cedo pessoas que tem condições de morar neste bairro fazendo sua caminhada matinal; passar pela lagoa à tarde indo pra algum compromisso na zona sul; a volta para casa no trânsito do fim de expediente; famílias brincando com filhos e passeando de bicicleta no fim de semana. Pessoas e paisagem entrelaçados... Um lugar belo freqüentado por pessoas bonitas, ricas e felizes...
E a solidão impera... pois a felicidade está nos momentos, como os citados anteriormente; mas a solidão é estar num desses lugares lendo um livro; pensando em alguém querido e no momento distante; ter um segredo e não poder, mesmo querendo, contar pra ninguém. Não necessariamente a solidão é triste; mas, como a felicidade, é feita de momentos... de solidão interior, de solidão externa, de quem está num lugar conversando, e em um momento se desliga e olha com outros olhos a situação que está vivendo.
Sozinha estou e sozinha sempre estarei. Para mim, a solidão é intrínseca a mim mesma. Não sei se isto é bom ou mau; mas sinto claramente que me iludo quando penso que em algum momento eu possa não estar sozinha... pois estar acompanhada é participar, se envolver, e eu não sei fazer isso... fico olhando o mundo, analisando-o, fazendo teorias, observando as pessoas e vendo o que há de tipicamente humano, masculino ou feminino, não rotulando as pessoas, mas justamente querendo retirar dos casos concretos a base para minhas teorias...
Talvez eu não saiba viver, ou ainda viver como os outros vivem. No entanto, eu já sei extrair dessa maneira que eu vivo a minha maneira de ser feliz.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~