sábado, abril 26, 2003

Anelos
elos nos dedos
Anéis
que anulam meus elos
que elucidam
minha lúcida escolha
Anelos
aninham-se em meus dedos
Cachos selvagens de cabelos
indomesticáveis
anulam
minha chance
Única e exclusiva
de sobreviver

Chinelos
que rangem
quando eu passo
quando eu piso
quando estraçalho
quando apenas soalho
soa soante solene
e só suavemente
piso descrente
anelo insolente
paspalho
miro em frente
indecente visão - televisão -
incompetente ação
de ser negligente

Singelos
sussurro curvado
sinto o arranhado
do som que busca
o atalho
amassado
me calo
insípida insólita
suado fremente
e desperto ausente
desespero consciente
quem cala consente
e é conivente
Anelos silentes.
Sss...ss...sss.
Desleitura

Dos livros não lidos
Toscamente escolhidos
Promessa não cumprida
Dos livros não escritos
Toscamente vividos
Editoras mal-dirigidas
Dos leitores mal escolhidos
Toscamente alfabetizados
Prontos a não recomendar
A leitura
? Quem tem coragem
De enfrentar sua solidão?
Solidão de ler em silêncio
Dos livros não lidos
Comprados para quando tiver tempo
Ganhados por honra e mérito
Roubados das bibliotecas
Para vingar-se da professora de literatura
Achados no armário
Era do tio, do avô, do parente
Que nunca saberá do presente
Agora encontrado em suas mãos
O livro não lido
Do autor desconhecido
Pela vida escolhido.
Somos alunos. Estamos matriculados regularmente, freqüentamos as aulas, passamos nas provas. E nos encontramos no meio do nosso caminho universitário.
Não necessariamente somos estudantes. O Pacto está feito: os livros estão ai, descansando languidamente nas prateleiras de nossas estantes ao sabor do ar condicionado que o envolve, quando não toma banho de sol na varanda da biblioteca. Mas estes foram feitos para serem olhados, meramente consultados – pois logo no primeiro dia de aula todos os professores nos “tranqüilizam” avisando que poderemos passar direto em suas matérias apenas com as anotações em caderno, nos poupando o extenuante trabalho de pensar. Algumas vezes, quando o “mestre” resolve faturar alguns trocados, adota-se um livro – o escrito pelo próprio professor. De qualquer forma, sempre há a necessidade da adoção de alguma corrente teórica - e assim, os cadernos se tornam o resumo de um determinado livro. Tudo o que temos que fazer é decorar essas anotações, tirarmos, 10, fazer a alegria da família, constituir um bom CR., arranjar um bom emprego e dormimos todos os dias em paz com nossas consciências.
E sendo assim somos escravos. Não temos direito ao básico: a discordar de uma teoria ou corrente ideológica. Pois quando nos apresentam uma tese como sendo a verdade, não há o que contestar – quem contestaria a Verdade? Aceitamos placidamente o que nos é dito – e a Verdade é inaplacável com seus contestadores: tasca-lhes um zero, reprova-os, tenta marcar suas vidas com o símbolo dos perdedores.
Somos todos alunos. Mas nem todos são estudantes e nem todos são cordeirinhos. Ainda assim, sempre haverá a maioria esmagadora e a minoria combativa. Não lutamos pela razão, mas pelo direito de termos idéias próprias e sermos respeitados por isso.
Eu sou um ser pensante, limitado pelas caixinhas de conserva ambientais.
Eu sou um sem em extinção, pois penso por mim mesma, busco compreender o mundo e sou capaz de ter minhas próprias idéias projetos e pensamentos.
Eu sou um ser em locomoção, pois minha mente se desloca no espaço – tempo para além das barreiras físicas e psicológicas prevendo situações prováveis e possíveis.
Eu sou um ser em automoção - pois me cerceiam, me rodeiam e me segregam esperando que vire uma máquina de fazer o que e somente o que esperam que eu faça.
Eu sou longamente superior ao que pensam de mim.
Eu sou longamente e superiormente capaz do que as tarefas diárias que me entregam para executar.
A tremenda ignorância e temor mesclado com insegurança fazem com que todos exijam referencias, sejam elas quais forem. Em uma escala tortuosa e sempre modificada de valores, com penalidades e prêmios dados a esmo, por pessoas e a pessoas ignóbeis.
Cegos e cansados, todos se esbarram no nada em que vivem.
Todos buscando a direção, e criticando e criticando os poucos que ousam sugerir uma solução. Preferem gastar suas vidas na monotonia tranqüila da mediocridade segura.
Enquanto isso, eu estou no alto, observando essas vidas esvaídas de emoção e razão.
Nada posso fazer a não ser lamentar.
Absolutamente nada posso fazer a não ser observar em silencio, me obrigando fechar meus olho e me calar.
E escrever
Sempre.
Pobre povo vagante de si mesmo

E sigo meu caminho.


ola a todos!