sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Despedida

Quem a visse jamais poderia supor o que passava em seu interior. Parecia distraída, olhando em volta o cenário, tão seu conhecido.

Um olhar de soslaio enquanto recebia cumprimentos: "Parabéns, boa sorte!!" Sorria e agradecia a Deus a oportunidade recebida. "Tudo na sua vida vai mudar!!" Não tinha do que se queixar; tinha ganho uma oportunidade única, um bilhete, uma passagem gratuita. Sabia que seria bem recebida em sua nova casa, com seus novos amigos.

Mas sofria intensamente. Ganhara uma passagem sem acompanhante. Não apenas lhe doía a crua solidão, ardia na alma o que sabia. Tantos que queriam, que dariam tudo por essa chance. Amigos que não poderiam ir, que por algum motivo, religioso ou ateu, teriam que se contentar em saber que ela havia conseguido. Pessoas que seriam deixadas para trás, para longe de sua vida, contra sua própria vontade.

Analisava este fato como um acréscimo em sua responsabilidade, aproveitaria sua chance considerando a ausência física dos companheiros de Ideal.

Súbito mudava o olhar e um sutil sorriso lhe iluminava o rosto. O medo e o desafio do desconhecido a ser desbravado, antevendo situações agradáveis e pensando em pessoas ainda sem rosto nítido, embora acolhedoras.

Uma lágrima lhe escorria quando colocou os óculos escurosao ouvir o irmão lhe dizendo:
-Pronta? Vamos?

Pegou as malas e saiu para o sol que brilhava lá fora.

Escrito no Rio de Janeiro, 1 de novembro de 2004