quinta-feira, julho 24, 2003

ARCA

O que se esconde neste baú
que sonhos, que quimeras
deixei ali e agora
não consigo enxergar?

Como fui capaz de enterrar
meus próprios sonhos e prazeres
Que aventuras escondi aos meus olhos
e de que adiantou isto
se minhas mãos anseiam em tocar
o papel amarelado e amassado no fundo da gaveta
Delícia como comer sobremesa sem jantar
Apenas de sonhos se alimentar
não se deixar congelar pelo coração
e ser atropelada pela multidão
que a priori nos incapacita de irmos
aonde queremos.

Os sonhos,
de dentro do seu túmulo
socam e gritam de dentro do caixão
avisando que estão vivos e querem sair

Meu coração congelado
me fez surda aos anseios sussurrados
mas subitamente vejo minhas mãos ávidas
e, confiando na sabedoria
que elas já adquiriram,
as deixo procurar
Mãos atrevidas tocam todo lugar
abrem portas e gavetas
mãos surdas e ceguetas
que tateiam sem parar

Sábio destino
espera o ápice do momento
mãos de fora que procuram
e mãos de dentro que esmurram
tem breve casamento

Mãos trêmulas tocam os sonhos
sonhos ávidos tocam o coração
libertando aquele ser de sua prisão
que é viver sem ter um alvo a alcançar
um sonho para sonhar
se permitir ser quem quiser
e se impedir de ser levado com a maré

O túmulo escancarado
é a prova de que há algo errado
mãos de sonho escrevem estas palavras
e um coração gelado é convidado a se isolar.

Ana Marta
anelos@br.inter.net

Nenhum comentário: